PIM, PAN, PUM.
Não voto no PAN precisamente pela mesma razão que não voto no PNR. Não gosto de extremismos nem de ditaduras. O PAN diz que não é de esquerda nem de direita. Eu não gosto de ditaduras de esquerda, não gosto de ditaduras de direita e também não gosto de ditaduras que não são de esquerda nem de direita.
Aquilo que define uma ditadura é os meios que são postos em prática. O típico militante do PAN é uma pessoa que pretende mudar o Mundo no seu período de vida. Só há uma forma de mudar o Mundo numa perspectiva mais global: obrigar os outros a fazer aquilo que nós queremos que os outros façam e sejam. É isso que o PAN é. O PAN é um partido de uma causa só, cuja presença no Parlamento é marcada sobretudo pelo maior número de abstenções do que tomadas de posição. Um partido que constantemente se abstém é um partido sem opinião. O que leva alguém a votar num partido cuja única opinião é gostar de bichos e da natureza (confesso que nunca entendi o porquê desta distinção)? O PAN quer mudar mentalidades e, para já, embora não passe de uma nota de rodapé, é um partido totalitário. Imaginemos o PAN como força maioritária num Governo. Alguém duvida de que iriam impor o seu estilo de vida a todos quantos votaram e não votaram neles? O PAN quer mudar mentalidades e quer começar a mudar mentalidades mudando o teu almoço.
O PAN representa a sociedade em que hoje vivemos. É verdade que em Portugal não tivemos crescimento da extrema-direita como noutros países, mas o mecanismo por trás dos recentes resultados eleitorais do PAN é o mesmo: o populismo. Tal como a extrema-direita faz com a emigração, por exemplo, o PAN dá respostas simples a problemas complexos. Veja-se o exemplo do fim dos canis de abate. Uma medida saudada por toda a gente, pois, à partida ninguém concorda com o abate de animais saudáveis, mas que vem agudizar o problema dos cães e gatos errantes. Numa sociedade cada vez mais urbanizada e que impõe os valores urbanos e descura a ruralidade, há cada vez menos identificação com a política e os políticos. Tal como o PAN, há muitas pessoas que não têm opinião sobre Educação, Saúde, Economia ou Justiça, mas gostam de bichos e de natureza (continuo sem perceber a distinção). Tal como o PAN, abstêm-se sobre esses assuntos, mas têm convicções sobre tudo o que envolve bichos e natureza dando respostas simples a problemas que são muitas vezes muito mais complexos. O empenho destas pessoas está em salvar o Mundo num dia e acreditam que têm de espalhar a sua palavra aos quatro ventos como se estivessem a meter uma lança em África sempre que dizem o que todos os outros já nos venderam fotocopiado. São uma espécie de testemunhas de Jeová ecológicos.
Aquilo que é verdadeiramente grave no pensamento por trás do PAN e das suas testemunhas é o facto de tudo isto desumanizar a vida humana. O PAN é um partido cujo líder afirmou haver características mais humanas num chimpanzé ou num cão do que numa pessoa em coma. O PAN é um partido que queria retirar os cães dos sem-abrigo ainda que estes sejam a única coisa que muitos têm no Mundo (sendo que, se há cães que podem fugir são os dos sem-abrigo, mas, por alguma razão, mantêm-se ao lado do seu dono. Pelo menos enquanto o PAN deixar). Orwell imaginou em 1946 porcos assentes em duas patas e a comer à mesa com homens. Em 2019, continua a parecer-me bastante mais provável ver o Homem a ser rebaixado à categoria de bicho e ter um PAN qualquer desta vida a mandar-nos a todos para a pocilga jantar com os porcos. É que hoje em dia isto é só uma espécie de pim, PAN, pum, mas depois, um dia, puf!