A Liberdade É Uma Chatice
Muitos de nós não vivemos a Revolução, mas todos nós vivemos o 25 de Abril.
Nunca ninguém me avisou que a Liberdade é uma chatice. É natural o nosso desejo de conforto e de que todas as coisas sejam à nossa maneira, mas não é disso que trata a Liberdade. É uma desordem ordenada. Não é régua e esquadro e risco ao meio. É de todos, mas não tem dono. É um bem colectivo maior do que todos nós. O nosso contributo é apenas tentarmos ser como achamos e queremos ser. A única forma de combater aquilo que está errado é fazendo diferente. Todos termos uma voz não significa que todos tenhamos a mesma voz. Quem tenta oprimir os palermas, os estafermos, os imbecis e outros que tais não é na Liberdade que está interessado. Em Liberdade não interessam apenas os fins. A única forma de preservar a Liberdade é dar espaço ao outro para viver a sua Liberdade. A todos os outros. Incluindo aos que estão errados. Sobretudo aos que estão errados. A Liberdade nunca será uma corrente de sentido único.Provavelmente, já todos ouvimos a expressão "não foi para isto que se fez o 25 de Abril". Para mim, o 25 de Abril fez-se apenas por uma razão: para termos a maçada de viver com quem pensa e age diferente de nós. Ser livre é viver em esforço e é por isso que a Liberdade é uma chatice. Uma chatice necessária que nos obriga a um constante trabalho de a renovar e manter viva. Exige coragem e ousadia, mas também implica desgaste (ou resiliência, como se diz agora). Possivelmente, também a vocês nunca ninguém vos avisou que a Liberdade é uma chatice. Nunca esqueçamos que a mão, seja a direita ou a esquerda, tem tanta capacidade para segurar um cravo como para apertar um pescoço na penumbra de quem não é livre. Que nunca nos falte a coragem para ousarmos ser livres. Viva e vivam o 25 de Abril!