Portugal nos Jogos Olímpicos
As vitórias são nossas. As derrotas apenas são deles.
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As vitórias são nossas. As derrotas apenas são deles.
Os advogados, os médicos, os polícias, os professores, os funcionários da limpeza, os políticos, os engenheiros, os bombeiros, os funcionários dos supermercados, os camionistas e outros tantos contribuem para dar ordem ao Mundo. Para o desordenar temos os artistas e os bandidos.
Nós somos aquilo que pensamos quando desligamos a luz.
Na vida todos procuramos um lugar. Há quem lá pelo meio ainda o procure. Não estou certo de que exista um lugar para nós. Há quem olhe em redor e apenas encontre um vaivém de pessoas na mesma busca. "Não vás nessa direcção. Já fui até ao fim e não encontrei o lugar. Vem antes por aqui comigo", dizem-lhes e dizem-nos, frequentemente. Em grupo torna-se mais fácil não encontrar um lugar. Talvez aí se opere a novidade - sentimos o deslumbramento de pertencer -, mas é insuficiente para encontrarmos o nosso lugar. Deixamos a convicção no nosso lugar e continuamos a deambular. Quanto mais afastados da nossa convicção - e ela só é nossa na ausência de outrém - , mais longe estamos do nosso lugar. Aquele lugar que não existe.
25 de Abril é dar uma no cravo e nenhuma na ferradura. O 25 de Abril começa a 1 e termina a 30 ou 31. E nem sempre é em Abril. Aliás, só uma vez por ano é em Abril. O 25 de Abril é Pretérito, Presente e Futuro; é Perfeito, Imperfeito e Mais-Que-Perfeito. É o outro. A Liberdade é sobretudo o outro. E o mesmo. Também é o mesmo. Mais do mesmo. Menos do outro. E da outra. A Outra Senhora. E o senhor, claro. Porque é igualdade. Mas também é diferença ao mesmo tempo. E também é tempos diferentes. Não é de ninguém, mas é de todos. Do fulano, do beltrano e, espantem-se!, do sicrano. O 25 de Abril é aqui, ali, além. Às vezes aquém e algures. Esperemos que nunca nenhures. O 25 de Abril é isto, mas também pode ser isso ou aquilo. É aquilo que quisermos. Apenas não é apenas. Nunca é demasiado. Que o 25 de Abril seja sempre!
Hoje em dia não vivemos grandes perigos. Há muitos milhares de anos o perigo real para a nossa sobrevivência espiava-nos a cada canto. Sair de uma gruta em exploração do espaço que circundava o Homem só não era um exercício de temeridade porque era igualmente necessário. Parece um contrassenso, mas o ser humano teve de colocar a sua sobrevivência em risco para sobreviver. Hoje, tudo isso deu lugar ao nosso conforto e o perigo praticamente não existe. Dir-me-ão que podemos levar com um camião em cima quando estamos a atravessar a estrada, mas as possibilidades de o Homem moderno ser atropelado por um camião ou ver uma parede desabar sobre si são infinitamente inferiores às dos Homens Pré-Históricos serem atacados por um animal, contaminados por uma praga desconhecida ou simplesmente morrerem à fome. Então de que temos medo no século XXI? A resposta é simples: tudo. Ou quase.
O Homem do século XXI sente-se ameaçado constantemente. Decerto que grande parte da explicação tem uma componente biológica, mas há também uma dimensão social relevante. Cada vez sentimos mais medo: das alterações climáticas, da extrema-direita, das desigualdades sociais, da inteligência artificial e respectivas consequências, das Guerras que se sucedem, do consumismo, da perda de empatia, das redes sociais, da crise na habitação, da destruição de ecosssistemas e extinção de espécies, das crises financeiras, de perdermos o emprego, da solidão, de múltiplas doenças, do terrorismo, entre outras. A lista, de facto, talvez seja infindável. Nenhuma destas coisas surgiu no século XXI. Assim sendo, porque é que coisas que existem há décadas, séculos ou até milénios (em alguns dos casos) nos atormentam tanto?
Eu penso que a principal razão se prende com a quantidade de informação que temos à nossa disposição. Parece ser algo intuitivo dizer que não podemos temer aquilo de que nunca ouvimos falar. A base de todo o pessimismo é a informação. Como um dia ouvi alguém dizer "um optimista é apenas um pessimista sem toda a informação". Aquilo que acontece hoje em dia é que temos a maior overdose de informação e estímulos da História que diariamente nos massacram e desgastam. A todo o momento estamos a ser relembrados de que as coisas não estão bem e que o nosso lugar de alguma forma está em risco. Andamos todos em pânico com a nossa saúde mental. É como se nos estivessem sempre a atirar malabares e nos exijam que nunca paremos de fazer malabarismo. Pior do que deixar cair os malabares é vivermos em constante medo e ansiedade porque sabemos que eles vão continuar a ser arremessados na nossa direcção e continuamos apenas a ter duas mãos.
Além do medo, esta sobrecarga de informação está produzir um outro efeito ainda mais nocivo nas pessoas: sentimo-nos culpados. Tudo o que acontece de errado no Mundo é culpa nossa e estamos a fracassar na nossa missão de fazer dos nossos lugares sítios menos abrasivos. A culpa das alterações climáticas é do Homem no geral, mas também é culpa minha e lembro-me disso sempre que como um bife. A culpa das desigualdades sociais é do Homem no geral, mas também é culpa minha e lembro-me sempre que vejo um programa onde só estão homens brancos heterossexuais. A culpa do terrorismo é do Homem em geral, mas também é culpa minha e lembro-me sempre que compro produtos vindos de países que financiam o ódio, a Guerra e até o próprio terrorismo. A culpa da perda de empatia é do Homem no geral, mas também é culpa minha e lembro-me sempre que não vou doar sangue, não fico a ouvir alguém porque não tenho paciência ou simplesmente passo demasiadas horas nas redes sociais. Sentimo-nos culpados. Mais! Sentimo-nos condenados. O Mundo vai de mal a pior e somos nós que estamos ao volante.
Tudo isto provoca em nós um sentido de urgência que muitas vezes extravasa em histerismo e incompreensão. "Isto já não vai lá com meias palavras", parecemos dizer com os nossos comportamentos. É preciso analisar e condenar cada micro-comportamento, fazer posts, apontar o dedo. As coisas perdem o sentido de importância que podem ter. Tudo é importante e urgente. Discutimos um logótipo ou casas-de-banho mistas com a mesma intensidade e fervor com que discutimos a Guerra na Ucrânia ou a pobreza. A ameaça ao nosso conforto tem o mesmo peso da ameaça à nossa sobrevivência. O conforto é a nossa única forma de viver. O medo é o que nos faz andar na vida com as veias do pescoço sempre salientes. Na rua ou em casa enquanto fazemos scroll. Quem não se indigna só pode ser um parasita. Amendronta-te e grita, seu palerma! Não vês que a culpa é tua?
E, efectivamente, é. A culpa é tua. É minha. É de todos nós... Hoje, a culpa já não morre solteira. Jurámos amá-la e respeitá-la, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza até que a morte nos separe. Viva os noivos!
O único debate que importa é: logotipo ou logótipo? Tudo o resto são bonecos e é assim que deve ser encarado sob pena de um dia o nosso discurso ser "eu ainda sou do tempo em que havia bonecos de esquerda e bonecos de direita. Hoje nem isso".
As rendas estão tão altas que hoje em dia ninguém sabe onde reside o busílis da questão.
... tudo teria corrido pior, obviamente.
Somos cada vez tão mais qualificados que é mais fácil ser enganado por um canalizador ou um empreiteiro do que por um médico ou um engenheiro.